foto F.Vianna |
"Filho da Dona Ana, mãe solteira, cresceu em uma selva de pedra, mais um filho pardo e sem pai."
Com essa citação inspirada no Mano Brown, que começamos nossa conversa com Tiago "Dequete", 32, mineiro nascido em Belo Horizonte, filho mais velho da Dona Ana, grafiteiro e um dos principais responsáveis por levar cores pelas ruas do nosso Udão cinza com suas artes.
Foi um adolescente tímido, com dificuldade de relacionamento, cresceu sem pai e devido a sua desestruturação familiar, a figura masculina que poderia ser um exemplo de pai presente agredia sua mãe, e foi no desenho que ele encontrou refúgio.
"Desde que eu me entendo por gente eu desenho. As vezes brinco que o ventre da minha mãe é todo desenhado. Eu já sai rabiscando!"
foto F.Vianna |
Dentre os decorreres e andanças pelas ruas, o despertar da inveja de algumas pessoas
foi inevitável que passaram perseguí-lo por causa do seu destaque. Foi quando entrou para uma gangue para que tudo fosse resolvido, mas por outro lado os inimigos dos seus novos amigos, também viraram seus inimigos, e o nível já era outro. Para aceitação do seu novo grupo, por mais que ele não gostasse, acabou se envolvendo com drogas, furtos e brigas de torcidas organizadas. Mas ele era uma pessoa diferente, sabia que seu lugar não era ali, e alguém também enxergou isso nele, o líder da gangue "Estávamos em um baile funk usando drogas, e ele virou pra mim no meio da galera e disse: Cara, você não precisa disso, a gente ta tudo fudido, mais você é diferente!". Segundo ele isso ecoa dentro dele até hoje, mas na época ele não deu ouvidos e continuou no mesmo caminho a procura do seu auto-reconhecimento.
foto F.Vianna |
Depois de passar por toda essas situações foi apelidado pelos amigos de The Cat (O Gato) por causa das suas sete vidas. "Eu brinquei com a forma da pronuncia e escrita errada feita pelos brasileiros e no final ficou Dequete". O Gato é o personagem criado e grafitado por ele pelas paredes da cidade, representando a sua sobrevivência. A escolha das cores verde, laranja e azul segundo ele são para um padrão estético, virar um símbolo urbano e ficar marcado na mente das pessoas. O Gato evoluiu com o tempo, como podemos ver abaixo:
(a esquerda o gato em 2002 / a direita o gato em 2015)
"Eu preciso pintar. Eu preciso estar na rua. Isso me faz vivo!"
Vivo que tem como objetivo ajudar jovens que ninguém mais tem esperança, e ele aproveita para mostrar que um dia ele foi igual eles e venceu todos os obstáculos. Entre alguns projetos para o futuro esta presente o 1º Mutirão de Grafite de Uberlândia, para levar nosso Udão para reconhecimento nacional e internacional com o street art, junto com a grafiteira Karen Kueia.
Para encerrar perguntamos pra ele alguma frase, palavra ou música que o inspirasse a seguir todos os dias grafitando pelas ruas, a resposta foi um trecho da música Jesus Chorou do Racionais Mc's: "Eu tenho uma idéia e propago isso, todo mundo precisa de dinheiro, mais dinheiro não me compra, dinheiro não compra meus ideais." O trecho da música escolhido foi:
"Mas a dona Ana fez de mim um homem e não uma puta!"
(Jesus Chorou - Racionais Mc's)
Confira mais um pouco do trabalho do Dequete:
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